Main Menu

Assign modules on offcanvas module position to make them visible in the sidebar.

Our school

Tags

CAPÍTULO II - DESAPARECE A “UNIÃO MUSICAL CORVINA” E CRIA-SE A "FILARMÓNICA LIRA CORVENSE"

 

1.   A revitalização da “União Musical Corvina” no início da década de 1930

Nos primeiros anos da década de 1930, a filarmónica da ilha do Corvo passou por uma revitalização da sua actividade, graças à passagem pela ilha do grande músico terceirense, o Maestro Manuel Coelho da Silva (pai). Fazia-se, assim, a recuperação de um certo cansaço nela existente, tal como acontece em todas as instituições desse género, com a admissão de alguns jovens.

De visita a seu filho, Padre Jorge Coelho da Silva, recentemente ali colocado, o Maestro Coelho da Silva chegou ao Corvo em Julho de 1932, onde permaneceu durante alguns meses 1.

Para além de ter escrito sobre a arte musical para o jornal “As Flores”, o Maestro Coelho da Silva dirigiu a filarmónica da ilha do Corvo, devendo ser assim o regente mais qualificado que por ela passou até então 2.

Pai de uma série de filhos que se distinguiram na arte musical, quer nas filarmónicas, quer nas boas orquestras que se organizaram neste século nos Açores, o Maestro Manuel Coelho da Silva nasceu da ilha Terceira, onde actuou em diversas filarmónicas. Foi um excelente Maestro, seja como regente, seja como compositor, o mesmo acontecendo mais tarde com alguns dos filhos. Hoje, também alguns dos seus netos ou netas são figuras importantes na música açoriana, onde as suas vozes se distinguem na rádio e na televisão.

O Maestro Coelho da Silva deverá também ter estado na origem da excursão corvina que, em 7 de Agosto desse ano de 1932, foi feita à Vila das Lajes das Flores, em cuja recepção teve lugar de relevo o terceirense Francisco Ornelas da Silva, que aí exercia as funções de Chefe da Repartição de Finanças.

Para o efeito, este contou com o apoio do Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal das Lajes das Flores, José Jacinto Mendonça Flores, bem como o bom acolhimento dos lajenses.

A embaixada corvina, que viajou por mar (único meio existente no tempo), chegou cerca das 10 horas ao porto de Lajes das Flores, onde foi recebida “por vários funcionários e muito povo 3.

Depois de saudada com muitos vivas e foguetes, a filarmónica corvina executou o seu hino social, cumprimentando os lajenses que, através da menina Maria Melo, entregaram um lindo ramo de flores ao Prof. Pedro Penedo da Rocha, dirigente da embaixada corvina.

Seguidamente a comitiva dirigiu-se à Câmara Municipal de Lajes das Flores, onde foi recebida pelo respectivo Presidente da Câmara e por outras autoridades concelhias. Feitas as diversas saudações musicais, houve sessão solene na Câmara Municipal, em que usaram da palavra Francisco Ornelas da Silva, que fez uma brilhante saudação, o Prof. Pedro Penedo da Rocha, por parte da comitiva, e José Jacinto Mendonça Flores, como autoridade máxima do Concelho. Com alegre manifestação de simpatia e de convívio, seguiu-se o tradicional “copo de água”, oferecido pela Edilidade Lajense aos diversos excursionistas corvinos que, no fim, sensibilizados, agradeceram. Depois seguiram-se os cumprimentos às diversas entidades lajenses, bem como um concerto musical.

Refira-se que Pedro Penedo da Rocha, que no Corvo exercia as funções de professor do Ensino Primário, para além de possuir uma elevada cultura para o meio em que vivia, era um excelente orador, tendo exercido durante vários anos as funções de Administrador do Concelho, de Comissário da Polícia e de Delegado Escolar da ilha do Corvo. Diz-se que como professor foi muito competente, pelo que no seu tempo não existiam analfabetos na ilha. Em face dessas qualidades, a pouco e pouco, Pedro Penedo da Rocha viria a ser, durante vários anos, um dos corvinos mais influentes da vida política e social da ilha, dispondo para o efeito de uma extensa família e de muitos amigos que nele confiavam, quer na ilha, quer fora dela, designadamente de políticos influentes da cidade da Horta, capital do respectivo distrito.

O regresso da comitiva corvina à ilha do Corvo fez-se no mesmo dia à tarde, depois de todos se mostrarem encantados e agradecidos pelo dia e pela simpatia que visitantes e visitados puderam dispensar uns aos outros.

Como se pode verificar pelas informações que nos dão os jornais que se publicaram na ilha das Flores, confirmadas por vários anciãos, muitas foram as festas religiosas florentinas abrilhantadas pela filarmónica da ilha do Corvo. As suas deslocações, que tinham lugar por via marítima em lanchas de cabotagem florentinas ou corvinas, quando o tempo o permitia, faziam-se sobretudo para Santa Cruz das Flores, Lajes das Flores, Fajã Grande, Ponta Delgada e até para a Lomba 4.

Escusado será dizer que a sua presença constituía sempre uma excelente atracção, já que era uma novidade de fora da ilha que despertava natural curiosidade e expectativa.

Fizeram parte da renovação que se fez na “União Musical Corvina” durante a década de 1930, entre outros cujos nomes se perderam através dos tempos, os seguintes corvinos: Edmundo Rocha – contrabaixo; Lino José de Fraga – trompete; Pedro Pimentel Cepo – clarinete; Luís Lino de Fraga – contrabaixo; António Jacinto Trindade – cornetim; Luís Lourenço Avelar – clarinete; Carlos Lourenço Avelar – requinta; Fernando Mendonça – trombone; José Rodrigues Domingues – trombone; Raulino Rita – bombardino; Guilherme Rita – bombardino; Inácio Pimentel Cepo – bombo; Pedro Lourenço Saramago – cornetim; José Inácio de Fraga – requinta; Manuel Coelho da Silva – clarinete; Brás Severino Rodrigues – bombo; e Isaltino Pimentel – caixa.

 

  Notas:      

1Jornal “As Flores”, Santa Cruz das Flores, de 16.07.1932.

2Idem, de 03.09.1932.

3Idem, de 27.09.1932.

4Idem, de 30.06.1934.